• por E-primatur
    Fev 06

    Jurgen Ilustrado

    Excertos
    A edição original de «Jurgen», de James Branch Cabell, edição essa ainda anterior ao processo por obscenidade, tinha ilustrações (12) de Ray Frederick Coyle (1885-1924), discípulo americano de Aubrey Beardsley, da sua escola e da sua estética.

    As 12 ilustrações são incluídas no final do texto da nossa edição. Eis alguns exemplos:



    Após o processo mediático, o ilustrador britânico Frank C. Papé, um dos mais notáveis da viragem de século, cria várias ilustrações e gravuras para a edição "liberta". Essas são as ilustrações que acompanham o texto da nossa edição. Alguns exemplos:


    Bom proveito!

  • por E-primatur
    Out 24

    O Salão Vermelho de August Strindberg ou de como, daqui a um século, ainda podemos chegar a ser a Suécia deste mundo...

    Excertos

    «A situação política
    torna-se cada vez mais interessante. Todos os partidos se subornaram com presentes e contra-presentes até todos eles se terem transformado numa indistinguível massa parda. Tudo isto acabará provavelmente no socialismo. Fala-se muito em aumentar o número de províncias para quarenta e oito e considera-se agora que uma carreira ministerial é o caminho mais rápido para a promoção, sobretudo por nem sequer exigir um exame de professor da escola básica. No outro dia, estava a falar com um dos meus antigos colegas de escola (já é um ex-ministro), que afirma que é muito mais fácil do que ser Secretário Assistente. As funções parecem ser mais ou menos as mesmas que cumprem a um fiador – apenas uma questão de assinar por baixo! E não há preocupações em relação aos pagamentos porque se tem sempre subfiadores.» (tradução do original sueco por João Reis)

  • por E-primatur
    Ago 24

    Os fantasmas de Franz Polzer

    Excertos


    « [...] A tudo isto se somou um certo acontecimento que só pode ser mencionado com toda a reserva. Polzer tinha então catorze anos e uma fértil imaginação juvenil instilada pelo ódio. Das relações entre homem e mulher não tinha outra ideia a não ser que eram algo horrendo e, por si só, repugnante. O mero imaginar de um corpo de mulher nu provocava-lhe asco. Um dia, entrara no quarto da tia quando ela se estava a lavar. A imagem do seu peito ressequido, de carnes flácidas dependuradas, ficou de tal maneira gravada que jamais conseguiu esquecer. Certa noite, estava ele no escuro corredor na parte de trás da loja, o armário do pão aberto, quando viu a porta do quarto da tia a abrir-se. Encostou-se todo contra à parede. Pela fresta iluminada da porta surgiu o seu pai em roupa de dormir. Atrás dele vislumbrou por momentos, como uma sombra, a figura da irmã do pai. A tia trancou a porta pelo lado de dentro.

    O pai passou muito perto dele. A sua camisa estava aberta e Polzer, apesar do escuro, achou ter conseguido ver o seu peito peludo. Por um instante, sentiu o cheiro de pão acabado de cozer, que estava entranhado no pai por este estar sempre na loja. Polzer susteve a respiração e manteve-se imóvel, mesmo depois da porta do quarto do pai se ter fechado atrás dele há algum tempo.

    Este acontecimento despertou em Franz Polzer sensações que trariam algumas das mais duradouras consequências para a sua vida futura. Apesar de ter vislumbrado apenas a sombra da tia, convencera-se de que esta estava nua. Desde então, era perseguido por imagens de situações que certamente ocorreriam durante a noite entre o pai e a irmã do pai. Polzer não tinha mais nada para as sustentar a não ser este único acontecimento nocturno. E depois disso não acontecera nada mais que também pudesse confirmar essa sua presunção.

    Desde então, Polzer passava as suas noites até quase de manhã sem pregar olho. Ficava à escuta. Parecia-lhe ouvir portas a ranger e passos cautelosos sobre o chão carcomido da velha casa. Despertava de um leve dormitar convencido de que havia ouvido um grito abafado. Sentia-se repleto de um asco amargo. Mas a curiosidade impelia-o a esgueirar-se, noites dentro, para junto da porta da tia. Nunca lograra ouvir outra coisa que a respiração dela.

    O pai sovava Franz Polzer com frequência, e a tia segurava-o. Quando nas noites em que havia sonhado com ele e sentido um medo infindável por o ter visto no sonho, com as suas roupas sujas, a sua cara vermelha e embrutecida, a tia por detrás, instando-o a torturá-lo e a sová-lo ainda mais, nos dias seguintes, quando o encarava, queria ser sovado de novo. Parecia-lhe que tinha que tornar tudo real, também o seu ódio pelo pai, como se este o houvesse mesmo esmurrado nas costas. Nessas alturas sentia-se crescido, era isso que sentia, mas mais fraco, muito mais fraco que qualquer um.»

    Excerto de "Os mutilados" de Hermann Ungar

  • por E-primatur
    Ago 22

    Strindberg escreve sobre como se fazia o sucesso de um autor no seu tempo

    Excertos

    «Arvid Falk começaria por se aproximar do poderoso Smith – este último adoptara tal nome devido a uma excessiva admiração por tudo o que fosse americano adquirida, na sua juventude, numa curta visita a esse grande país –, uma temida figura com mil tentáculos, que era capaz de criar um autor em doze meses, mesmo quando muito mau. O seu método era bem conhecido, mas ninguém ousava empregá-lo, pois exigia um descaramento sem precedentes. Qualquer autor sob a sua protecção tornava-se, inexoravelmente, conhecido e, por isso, Smith via-se rodeado de autores ainda desconhecidos. O seguinte caso ilustra o seu modo irresistível de promoção de pessoas apesar da opinião do público e dos críticos. Um jovem, que nunca escrevera nada antes, escreveu um mau romance, que, em seguida, apresentou a Smith.
    O último gostou, por acaso, do primeiro capítulo – nunca lê mais do que isso – e decide que o mundo deveria ter um novo autor. O livro surgiu com as seguintes palavras na contracapa: «Sangue e Espada. Um romance de Gustaf Sjöholm. Esta obra do jovem e promissor escritor, cujo nome se tornou largamente conhecido e muito respeitado, etc… profundidade de caracterização… clareza… força. Recomendamo-lo vivamente ao público que aprecia romances.» O livro saiu a 3 de Abril. A 4 de Abril, foi alvo de uma recensão no jornal nacional de grande circulação, O Manto Cinzento, do qual Smith era proprietário de 50 acções. As últimas palavras da recensão foram: «Gustaf Sjöholm já ganhou nome por seu próprio mérito, por isso, não precisamos de o fazer por ele. Recomendamos esta obra não só a romancistas, mas também a leitores de romances.» A 5 de Abril, o livro foi alvo de publicidade em todos os jornais nacionais e repetiram-se as seguintes palavras no anúncio: «Gustaf Sjöholm já ganhou nome por seu próprio mérito, por isso, não precisamos de o fazer por ele (O Manto Cinzento)».
    Nessa mesma noite, surgiu uma recensão crítica n’ O Incorruptível, um jornal que ninguém lia. Aí, o livro foi descrito como o epítome do lixo literário, e o crítico jurou que Gustaf Sjöblom (erro deliberado do crítico) não tinha nome nenhum. Mas como ninguém lia O Incorruptível, a oposição continuou sem se fazer ouvir. Os outros jornais nacionais, que não queriam que as suas opiniões entrassem em conflito com as do estimado O Manto Cinzento, e receosas de enfurecer Smith, utilizaram termos brandos, embora não tenham passado disso. Acreditavam que Gustaf Sjöholm poderia perfeitamente, com tempo e esforço, chegar a criar nome por seu mérito.
    As coisas serenaram durante alguns dias, exceptuando o facto de todos os jornais conterem o anúncio – em negrito n’ O Incorruptível – já conhecido de «Gustaf Sjöholm já criou nome por seu próprio mérito.» E, depois, apareceu um artigo no jornal regional Miscelâneas de X-köping que lamentava o tratamento deplorável que os jovens autores recebiam na imprensa nacional.
    O colaborador exaltado concluía: «Gustaf Sjöholm é pura e simplesmente um génio, por muito que idiotas intelectualizados o neguem.»
    No dia seguinte, o anúncio voltou a aparecer em todos os jornais, desta vez declarando que «Gustaf Sjöholm já tem nome (O Manto Cinzento). Gustaf Sjöholm é um génio (Miscelâneas de X-köping)». O seguinte número da revista O Nosso País, publicada pela editora de Smith, continha o seguinte aviso na capa: «Temos o prazer de informar os nossos muitos leitores de que o muito respeitado escritor Gustaf Sjöholm nos prometeu um conto inédito para o nosso próximo número, etc.» Estes foram os anúncios nos jornais. Depois, no Natal, chegou o almanaque O Nosso Povo. Entre os autores que figuravam na página de título – Orvar Odd, Talis Qualis, etc., etc., encontrava-se Gustaf Sjöholm.
    Não havia dúvida: apenas oito meses depois, Gustaf Sjöholm tinha nome. E os leitores? Não tinham escolha e restava-lhes aceitar. Tinham somente de entrar numa livraria e ver o seu livro para terem de o ler. Não conseguiam pegar num jornal sem o verem anunciado. Chegava a ser impossível realizar actividades corriqueiras sem se depararem com o seu nome impresso: as donas de casa encontravam-no nos seus cestos de compras todos os sábados, as criadas transportavam-no da mercearia até casa, os varredores tiravam-no das ruas e os cavalheiros guardavam-no no bolso da sua camisa de noite.»
    Excerto de O Salão Vermelho, romance a publicar pela E-primatur em finais de Outubro de 2015.

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