Em 1922, James Joyce confessava numa carta ao seu tradutor francês, Valéry Larbaud, que o «criador» do «monólogo interior» fora Édouard Dujardin.
Joyce explicava-lhe que a novela Os Loureiros Estão Cortados tinha sido a principal inspiração para o estilo do seu Ulisses. Larbaud, por sua vez, insistiu numa reedição da obra há muito esgotada desde a publicação original em 1887.
Com um enredo intencionalmente difuso, a novela segue a vida de um estudante em Paris durante seis horas. O estudante antecipa o encontro com a bela actiz Lea d'Arsay, que o irá aceitar como amante (muito embora, na realidade, esteja apenas interessada no seu dinheiro).
As seis horas de anseios, dúvidas e motivação pessoal são, como mais tarde descreveu o seu Autor, «um romance de algumas horas, de uma acção banal, com um personagem aleatório». O interesse do Autor residia na forma de contar a realidade de uma pessoa comum: os seus pensamentos, a sua mente, tendo o Autor a menor intervenção possível nessa realidade inquestionável.
O título do livro tem origem numa canção com rima escrita por Madame de Pompadour, a famosa amante do rei francês Luís XV, em 1753. A canção descreve o ciclo da natureza, a morte e o renascimento da vida. No entanto, tem também um hipotético segundo sentido relativo à proibição das casas de passe devido a um surto de doenças venéreas. Na época, as casas de passe tinham a distingui-las sobre a porta um ramo de loureiro. De acordo com essa leitura, a canção seria um incentivo à despenalização e um hino à liberalização das orgias sexuais. Todas estas leituras podem ser encaixadas em correntes de sentido na paixão do jovem estudante, protagonista da novela.
Apesar da admissão do próprio Joyce, a comunidade literária teve muita resistência a admitir Dujarin como pai dessa técnica revolucionária. Tratava-se de um autor mais velho, que pertencera à geração que «os novos» tinham precisamente a intenção de destruir. Na verdade, Dujardin teve uma vida longa, falecendo aos 88 anos e atravessando várias escolas e movimentos, mas ficou sobretudo associado ao simbolismo. Apesar de ter continuado a experimentar técnicas narrativas, era visto pelo meio literário como um monumento de outras eras.