Capítulo perdido de uma outra obra, poesia de um personagem de um romance...
Capítulo não publicado na íntegra no romance Punição (BookBuilders, 2019), o segundo volume da trilogia de Édipo, onde apenas surge o primeiro poema, alinhando os possíveis versos escritos por Isaac Lobo, personagem tornada central na fabulação edipiana escrita por Miguel Marques e iniciada com o romance Cada Vez Mais Forte o Sino (BookBuilders 2017).
Com a sua estrutura triádica, com um Primeiro mover seguido de um Segundo mover (movimentos em palco e com sentidos opostos, executados pelo coro dividido enquanto entoava as antigas odes) e encerrando com o Epodo onde o coro canta a uma só voz e estático ao centro, Isaac faz uso dos hinos compostos pelo pai juntando-lhes a palavra.
Se na abertura do Primeiro mover é a figura da mulher-mãe a base do canto, ao longo da obra e já seguro que no Segundo mover é a mulher-esposa que toma posse das obsessões quotidianas de Isaac, que o tornam refém, com a sua poesia imaginada ou imaginário poético de um possível heterónimo do seu autor. Isaac Lobo, o homem da ciência, o professor de física, mas também da cultura clássica e da religiosidade crescente, cumprindo a transfiguração contada por Sófocles no seu Édipo em Colono, levando a apontar a verdade oculta que neste livro quase é revelada, a da conclusão da trilogia com o romance O Elefante passou aqui a noite.
O que é isto? O que é? Consigo senti-lo de novo.
O que poderá ser isto? É o sangue que pára
quando deve correr, será isso? Arrefece-me o corpo nu.
Puseram-me um lençol, até a cabeça me taparam.
E na cabeça tantas mordidelas de células a quererem dizer basta.
O que é isto? Que exaltação é
esta que no entanto me apazigua?
Para onde me leva?
Tudo cessa. Tudo foi.