A produção literária de António Ferro faz dele provavelmente o único escritor modernista português a focar-se maioritariamente na prosa.
António Ferro foi o jovem editor da revista Orpheu. A sua ligação ao modernismo remonta ao convívio com Mário de Sá-Carneiro e outros jovens. A sua primeira fase como escritor focou-se essencialmente no modernismo, tendo produzido poesia, teatro e sobretudo ficção.
A prosa de António Ferro está centrada exclusivamente nos anos 20 do século passado. Fundamentalmente composta por contos e novelas curtas, centra-se na figura feminina, que, para o autor, encarna a novidade da época moderna - vamps, galãs e carrões enchem a sua produção literária.
A literatura de António Ferro faz a travessia dos temas tradicionais da ficção da época para o estilo e para a mentalidade modernas. Nisso é um escritor único, cujo paralelo possível entre os vanguardistas do seu tempo está, de forma quase exclusiva, nas obras de Ramón Gómez de la Serna (que prefaciou uma das novelas de Ferro, e reciprocamente Ferro fez o mesmo) ou da britânica Mina Loy.
Um certo erotismo, muito humor na construção de personagens que se afirmam como personagens-tipo, assumindo, porém, uma irreverência inesperada, são as marcas destes textos de grande modernidade, com frases lapidadas na perfeição. Cada livro desta Ficção constitui uma obra literária independente, por vezes com uma escrita aforística e impetuosa que projecta a mulher portuguesa para a época moderna.
Neste volume o leitor português tem, pela primeira vez, acesso a um dos grandes escritores modernistas nacionais numa faceta da sua obra pouco conhecida, mas que se pode mesmo constituir, ao contrário do que acontece com outros contemporâneos como Pessoa, Sá-Carneiro ou Almada, como uma espécie de elo perdido da evolução da prosa ficcional portuguesa para a sua maturidade moderna.
Compõem este volume:
- Teoria da Indiferença (1920)
- Leviana (1921)
- Batalha de Flores (1923)
- A Amadora dos Fenómenos (1925)
e duas novelas nunca antes publicadas em livro:
- Suicídio
- Duelo de Morte
Este volume é também enriquecido com um extratexto impresso a cores, contendo a reprodução das capas das edições originais, entre outro material iconográfico, feitas por alguns dos pintores e ilustradores mais importantes do primeiro modernismo, nomeadamente António Soares, Bernardo Marques e Mário Eloy.