Mikhail Bulgakov (1891-1940) é considerado o nome maior das letras russas na primeira metade do século XX.
Nascido em Kiev (Ucrânia), então parte do Império Russo, Bulgakov era um dos sete filhos de um advogado e de uma professora. Durante os tempos de liceu apaixonou-se pela literatura, devorando não só os grande nomes russos, mas também a maior literatura europeia em voga na altura. Contudo, em 1907, e depois da morte do pai, optou pela carreira médica, tendo completado o curso de medicina com distinção e tornando-se médico no hospital militar de Kiev.
Nos seus primeiros tempos especializou-se, sendo responsável por estudos pioneiros, nomeadamente no domínio das consequências da sífilis, um mal que assolava as tropas russas e também uma faixa elevada da população mais viajada e de moral mais liberal. Este período deixou marcas profundas na escrita do autor, que se centrou muitas vezes na natureza do pecado e da corrupção moral. Bulgakov compreendia as circunstâncias atenuantes de muitos dos seus pacientes, e, mais tarde, teria a mesma condescendência com muitas das suas personagens.
Durante dois anos foi destacado como médico para a área rural de Smolensk. De regresso a Kiev em 1918 abre um consultório privado e é durante esse período que assiste à Guerra Civil e a 10 golpes de Estado. Sucessivos governos alistam o jovem médico, enquanto dois dos seus irmãos combatem pelo exército branco contra os bolcheviques.
Em 1919, ao serviço do exército popular da Ucrânia, presta serviço no Cáucaso, mas contrai febre tifóide e fica às portas da morte. Ainda não totalmente recuperado, começa a trabalhar como jornalista, mas quando o seu nome e o de outros médicos são escolhidos pelos governos alemão e francês para exercerem as suas profissões, Bulgakov vê essa permissão ser-lhe negada por causa da febre tifóide. A partir dessa data, nunca mais viu a sua família, que partiu quase na totalidade para Paris.
Depois de recuperado, decidiu abandonar a carreira médica para se dedicar à escrita. Viveu sempre com dificuldades, trabalhando como jornalista, director de revistas, correspondente e folhetinista. Publicou diversos livros de contos e romances, bem como algumas peças de teatro. Depois de ver uma peça sua banida pessoalmente por Estaline, Bulgakov viu o mesmo Estaline a defendê-lo publicamente das críticas de um director teatral, reconhecendo-o como um escritor cuja obra estava acima do partido ou de definições de esquerda ou direita.
Apesar do êxito temporário, a censura oficial bane as obras de Bulgakov em 1929. Em desespero, escreve pessoalmente a Estaline, que lhe permite continuar a trabalhar. No entanto, a relação difícil com o sistema mantém-se na década seguinte. A maior parte da sua obra (que não se coíbe de ridicularizar o regime) fica na gaveta e outra é proibida ou arrasada pela crítica. Ainda assim, é a sua época mais produtiva enquanto autor.
Ao longo da década de 30, Bulgakov trabalhou naquela que classificava como a sua obra crepuscular, Margarida e o Mestre, que esperava publicar ainda em vida. Porém, o romance só viu a luz do dia 26 anos após a morte do seu autor. Poucos meses depois de a concluir, morreu devido a uma doença crónica, a mesma de que padeceu o seu pai e que o próprio Bulgakov vaticinara vir a ser também o seu fim.