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Titulo Estado Civil
Autores Pierre Drieu La Rochelle, Margarida Madeira (tradutora)
Género
Romance
Proposto por
Margarida Madeira e Hugo Xavier
Editor
Hugo Xavier
Formato
13 x 20 cm
N.º Páginas
164
Data
Fevereiro de 2024
ISBN
978-989-9130-23-4
Notas
Excerto
Drieu la Rochelle é um escritor amaldiçoado, e com razão: colaborador e apoiante de Hitler, cometeu o erro supremo do século XX; suicidou-se depois de escrever uma nota que exigia a morte como traidor.
A sua obra é a de um homem contraditório, que hesitou entre a Action Française e os surrealistas, entre o nacionalismo e o europeísmo, o comunismo e o fascismo, o pacifismo e o culto dos valores guerreiros, a literatura e o compromisso político.

Mas a verdadeira paixão de Drieu não é a política: é a sua própria morte perseguida com um fascínio lúcido em todos os seus escritos; já em Estado Civil, um dos seus primeiros livros (1921), diz-nos: «O sangue, este hieróglifo, aparece por toda a parte sob a minha pele como o nome de um deus.»

Nesta surpreendente autobiografia, Drieu conta-nos a sua infância durante a Belle Époque, a adolescência com todos os seus tormentos e a busca de ideias que lhe servirão de bitola durante toda a sua vida. Uma biografia surpreendente, porque em vez de uma narração do passado, das historietas, das mudanças e da procrastinação da juventude, Drieu partilha com o leitor, de rajada, a sua inquietação ao nascer para o mundo, a inclinação que o prejudicará gravemente e que projecta as consequências no seu desenvolvimento posterior, mas também uma análise interessante do encontro com o mundo e as influências que a criança pode sofrer ao longo da vida. «Será que um dia poderei contar outra coisa além da minha história?», questiona Drieu no início de Estado Civil.
 
Mas por que razão publica a sua autobiografia aos 28 anos? Porque pelo meio houve o massacre da «Grande Guerra»: uma verdadeira carnificina industrial. Drieu dá por si três vezes ferido, com a necessidade urgente de escapar à sua infância, questionar o seu lugar no mundo, fazer um balanço desta sociedade que o levará ao suicídio. Estado Civil é um «romance» que acaba por se revelar uma confissão, um estudo, uma busca de identidade: quem é esse menino alto e loiro de olhos azuis, criado em Paris e nos verões do campo, mal amado por um pai ausente – incompetente nos negócios e que prefere a sua antiga amante –, e com uma mãe que sai todas as noites? Assim se revela um desgosto proustiano pela partida materna, com ansiedades, medo do escuro e suspeitas.

Pierre é um ser mal amado, marcado para o resto da vida: aos 6 anos pressiona uma faca contra o peito até sangrar. Tortura uma galinha, quase involuntariamente, até que ela morra, apresentando-se perante o «tribunal da família» que lhe atira o cadáver à cabeça.

Entre o declínio familiar e a decadência colectiva, Pierre Drieu La Rochelle sente-se «neto de uma derrota», a de Sedan sob Napoleão III, a vingança da Alemanha sobre Jena, derrotada por Napoleão, o Grande – Pierre, quando criança, tinha um fascínio pelo Napoleão das histórias que a avó lhe contava.

Mas a realidade revelou-se muito mais triste. Este é o romance sobre a perda de um mundo, que levou um ser humano a desencontrar-se, numa narrativa que acompanha o pequeno Pierre, mas se projecta constantemente na sua adolescência e na idade adulta.

Pierre Drieu La Rochelle (1893-1945) foi um escritor francês com uma vida atribulada que terminou em suicídio.
Nascido no seio de uma antiga família da burguesia normanda, Pierre teve de lidar desde a infância com um pai ausente, um advogado sem talento e um homem de negócios incompetente, que mantinha abertamente relações extraconjugais e levava uma vida de excessos à custa do dote da sua esposa.

Esgotada a fortuna, o pai regressa aos braços de uma amante e a mãe parte, destruindo o estatuto social da família. É apenas com a avó que mantém a sua única relação de carinho, mas tal implica também a sua convivência com ideias conservadoras e anti-semitas. É com ela que Pierre fica fascinado com a figura de Napoleão.

O jovem estuda com o objectivo de enveredar por uma carreira diplomática. Durante esse período, La Rochelle tem grande êxito com as mulheres, mas não consegue retirar prazer das suas relações. Casa-se com uma jovem judia da qual se divorcia quatro anos depois. As posições anti-semitas da avó não permitem que se aproxime da mulher nem emocional, nem sexualmente.

Mobilizado durante a Primeira Guerra Mundial, é ferido por três vezes e essa experiência reflecte-se nos seus primeiros romances.

A partir daí, Drieu vive uma vida de instabilidade e indecisão constantes, hesitando entre a Action Française e os surrealistas, entre o nacionalismo e o europeísmo, o comunismo e o fascismo, o pacifismo e o culto dos valores guerreiros, a literatura e o compromisso político. Por duas vezes tentou o casamento, mas era incapaz de manter um relacionamento duradouro ao mesmo tempo que tinha várias amantes por curtos períodos. Apesar dos ziguezagues da sua vida, conseguiu construir uma obra literária sólida, essencialmente autobiográfica, que nos revela um homem de extrema inteligência, mas incapaz de se libertar dos seus traumas e dos seus fantasmas.

Com a ocupação alemã torna-se colaboracionista e admirador confesso de Hitler. É colocado por recomendação do chanceler alemão em Paris como director da NRF, onde enceta um trabalho de exclusão de Autores judeus. Ao mesmo tempo, contudo, intercede a favor da primeira mulher e de vários amigos e conhecidos, resgatando-os de campos de concentração.

Em 1943, com o encerramento da NRF, retira-se, desiludido da intervenção política dedicando-se à escrita e ao estudo da História das religiões.

Ao longo de 1945, e apesar de constantes rumores sobre possíveis processos ou queixas contra Drieu la Rochelle, a intervenção de alguns dos maiores intelectuais e escritores da época – muitos dos quais protegera durante a ocupação – faz com que nunca se concretizem.

Ainda assim, e com o culminar de diversas tentativas de suicídio que vinha encetando desde a infância, consegue pôr termo à vida. A sua obra continuou a ser publicada e no começo dos anos 2000, e apesar de várias polémicas, passou a integrar a Biblioteca de La Plêiade.
Sem informação.
Impresso em papel snowbright com certificado ambiental

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