Tudo saber para nada saber ou vice-versa. O grande romance inacabado de Flaubert que, ainda assim, é considerado uma obra-prima da literatura universal.
Numa carta a George Sand enviada no início da década de 70 do século xix, Flaubert afirmou a sua intenção de escrever um romance cómico que poderia ter como subtítulo Enciclopédia da Estupidez Humana, o que faria bastante sentido, uma vez que Bouvard e Pécuchet pode ser lido como uma critica da sabedoria convencional, mas também como um tratado sobre a vaidade dos seus contemporâneos e a arrogância do conhecimento superficial.
O enredo centra-se em Bouvard e Pécuchet, dois homens que num dia quente de Verão em Paris se sentam, por mero acaso, no mesmo banco de uma avenida. O facto de um deles reparar que ambos tiveram a mesma ideia – gravar o nome no interior do chapéu – dá início a uma longa conversa em que acabam por se conhecer, descobrindo não só que têm a mesma profissão – trabalham como copistas –, mas também os mesmos interesses, nomeadamente viver no campo, se tal fosse possível. Uma herança inesperada e oportuna permitir-lhes mudar de vida. Tornam-se donos de uma quinta não muito longe de Caen e começam a cultivar. No entanto, a sua incompetência na agricultura gera desastres sucessivos. Mais tarde, interessar-se-ão por Medicina, Química, Literatura, Geologia, Política, Filosofia, Desporto, entre outros assuntos, mantendo sempre as mesmas dificuldades no frenesim de tudo quererem saber e experimentar. O romance está inacabado e a parte publicada faz parte de um plano mais extenso. Ainda assim, é considerado por muitos, a par de Madame Bovary, uma obra-prima da literatura francesa com um vocabulário, uma sintaxe e um estilo extremamente apurados.
«Flaubert desperta em mim uma afecção que não sinto por qualquer outro Autor.» - Jean Echenoz
«De entre todas as obras deste brilhante Autor, Bouvard e Pécuchet é definitivamente a mais profunda, a mais abrangente, a mais vasta... É a Torre de Babel das ciências, onde tudo é diverso, oposto, e as doutrinas absolutas - cada qual com a sua linguagem - revelam a impotência do esforço, a vaidade da afirmação, e o sempiterno "mistério de tudo".» - Guy de Maupassant