Mariana Alcoforado nasceu em Beja, em 1640, no seio de uma importante família oriunda da
cidade.
Por decisão dos pais, foi destinada, desde muito jovem, à vida religiosa. Ingressou
como educanda, ainda antes de completar 11 anos, no convento de Nossa Senhora da
Conceição, a mais importante instituição religiosa de Beja, onde professou e tomou
votos aos 16 anos. Durante a sua longa vida conventual, exerceu, entre outros cargos, os
de porteira, escrivã e vigária. Morreu em 1723.
O nome de Madre D. Mariana Alcoforado, apenas lembrado nos papéis do arquivo
conventual, ficaria sepultado, à imagem do que aconteceu a tantas outras freiras, se não
fosse o caso de um erudito francês, Jean-François Boissonade, ter revelado, em 1810, um
dado sensacional: foi ela a autora das famosas Lettres Portugaises, cinco cartas de amor
dirigidas por uma certa Mariana, religiosa num convento de Portugal, a Noël Bouton,
mais tarde marquês de Chamilly, militar da força expedicionária francesa que combateu
nas fileiras lusas durante a fase final da Guerra da Restauração, entre 1664 e 1667.
Desde a sua publicação em 1669, sob a chancela do editor parisiense Claude Barbin,
até hoje, esta obra retrata uma paixão dramática que faz parte do património literário
universal. Constituem também um clássico da literatura francesa do tempo de Luís XIV,
cuja escrita, plausivelmente inspirada pela história real – e pelas cartas do punho da
própria Mariana Alcoforado –, é atribuída a um notável autor desse período, Gabriel
Joseph de Lavergne, conde de Guilleragues (1628-1685).
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José António Falcão (Lisboa, 1961) é historiador, museólogo e gestor cultural.
Especialista de renome no âmbito da arte cristã, tem consagrado grande parte da sua
actividade ao estudo dos bens culturais do Alentejo, o que lhe granjeou importantes
prémios nacionais e europeus na área do Património Cultural. Dirigiu entre 1984 e 2017
o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja. A profissão
museológica levou-o a exercer funções, entre outros, no Museu de Évora, na Casa dos
Patudos – Museu de Alpiarça (da qual foi conservador e director em etapas cruciais da
história desta instituição), no Museu Calouste Gulbenkian e no Museu Maynense, da
Academia das Ciências de Lisboa. Foi também presidente do Opart, a maior empresa
pública no âmbito da Cultura. Leccionou História de Arte em universidades de Portugal,
Espanha, Brasil e Estados Unidos da América. Pertence à Academia Nacional de Belas-
Artes e à Academia Portuguesa de História, bem como a instituições similares de vários países.
Da sua vasta bibliografia fazem parte obras de referência para o conhecimento da
identidade portuguesa, como Entre o Céu e a Terra, As Formas do Espírito, No
Caminho sob as Estrelas ou Face a Face: Representações do Sagrado na Arte
Europeia.