Cada pessoa tem a sua maneira particular de improvisar cenicamente, como se, com a experiência acumulada, tivesse vindo a abrir o leito de um rio para fazer escoar os impulsos identitários da sua particular representação teatral.
E nós temos de aproveitar o que de bom isso traz para dar continuidade ao fluxo criativo que não tem de parar quando atravessa um território desconhecido, que pode parecer árido enquanto ainda não se conhece. A consciência, a técnica, as ferramentas, o sistema metodológico, obrigam a fazer canoagem numa tumultuosa corrente de água, cheia de pedregulhos que tanto podem ser os obstáculos que mais entusiasmam o praticante, como podem partir a cabeça a quem não consegue deixar de pensar no que parecia ser inquestionável. A atriz que muda o processo para exercitar a teatralidade sabe que tem de ficar momentaneamente sem tapete ou sem as habituais boias de salvação para se apropriar dos apetrechos que potenciam a sua inata e experienciada criatividade.
João Brites (Torres Novas, 4 de junho de 1947) é dramaturgista, encenador e cenógrafo.
Fundou, no seu regresso do exílio em Bruxelas, em 1974, após a revolução de 25 de Abril, o Teatro O Bando, que ainda dirige atualmente e que se encontra instalado em Vale de Barris (Palmela). Da sua formação na área da Gravura, da Pintura Monumental e da Cenografia, na École Nationale Superieure des Arts Visuels - La Cambre (Bélgica) trouxe um modo de conceber o Teatro, afirmando-se como um artista singular no campo teatral português. Enquanto encenador e diretor artístico do Teatro O Bando caracteriza-se pela sua escrita dramatúrgica de versões cénicas de textos não-dramáticos portugueses e estrangeiros, que adapta e encena; pelo teatro coletivo e comunitário; pela invenção, com a sua equipa artística, de dispositivos simbólicos através da conceção plástica do espetáculo e das suas máquinas de cena; pela direção de atores em torno da ideia de ator-artista e do sistema da Consciência do Ator em Cena, fortemente ancorado nas noções de diálogo interior, de personagem intermédia e de dissonâncias entre os planos da interioridade, da oralidade e da corporalidade. Durante 22 anos foi professor na Escola Superior de Teatro e Cinema (Lisboa); foi diretor artístico do Festival Internacional de Artes de Rua, diretor da Unidade de Espetáculos da EXPO’98, tendo sido agraciado com o grau de Comendador da Ordem do Mérito (1999). Em 2011, foi o comissário da Representação Oficial Portuguesa na 12.ª Quadrienal de Praga.
Sem informação.
Impresso em papel snowbright com certificado ambiental.