Numa obra abrangente e monumental, estudam-se as ideias sobre a "mente humana" a partir de uma miríade de campos tão diferentes como a Psicologia, a Filosofia, a Medicina e as ciências em geral ou até a Religião.
«O [presente] livro trata da história das ideias sobre a mente e não da história da disciplina académica e profissional da Psicologia. [...] É sobre a concepção de Homo sapiens como mente e conduta que este livro incidirá. Por isso trata da teorização antiga e moderna sobre a mente e a conduta, tanto mais que [...] muitas das ideias modernas têm origens muito remotas.
O trabalho começa com a identificação dos fenómenos que estão na base da ideia do «psicológico» – daquilo a que se chama «a mente». Recorri à literatura disponível sobre as culturas ágrafas e a dados sobre algumas civilizações da Antiguidade. [...]
Depois desta identificação, passa‑se aos conceitos de mente historicamente documentados. Analisa‑se a descoberta, pelos gregos, da mente como objecto de conhecimento. Nessa época estabeleceram‑se as bases do pensamento subsequente e definiram‑se eixos de variação que ainda hoje estão presentes. [...]
O livro segue, tão fielmente quanto possível, os vários autores influentes, tentando contextualizar as ideias na época em que foram formuladas. Cada teoria é apresentada primeiro descritiva (com base directa nos textos dos autores) e depois criticamente. É, pois, possível separar o que cada autor analisado defende e a crítica feita ao pensamento desse autor. [...]
A análise estende‑se [...] aos pensadores contemporâneos e aos movimentos de maior impacto na psicologia actual. [...]
Com base na análise precedente, discutir‑se‑ão as várias ideias que se juntaram às posições iniciais – por exemplo, as várias tentativas de explicar a mente por processos naturais, o impacto da teoria da evolução, o desenvolvimento da neuropsicologia e da psicofisiologia, a ideia de inconsciente, a perspectiva desenvolvimentista. Nesta discussão procuro [...], pois, fazer uma descrição dos eixos irredutíveis do pensamento ocidental sobre a mente e das maneiras como se combinam em teorias, no passado e no presente – trata‑se de uma espécie de «genealogia» da psicologia, isto é, quais são os eixos, como se combinam e com que resultados.
Conhecer os eixos do pensamento sobre a mente e as suas combinações permite considerar a actual prática da ciência psicológica com distância: analisando a psicologia actual verifica‑se que vivemos, ainda, na luta entre correntes e posições, algumas com mais de dois mil anos. Não transcendemos o passado, apenas o continuamos, com os mesmos erros e sucessos dos nossos antecessores. O conhecimento das razões históricas da nossa acção permite‑nos não apenas compreender o porquê de se privilegiarem certos temas ou certos métodos, mas também, e é o mais importante, equacionar a validade de opções teóricas e metodológicas quase nunca explicitadas. Como vários dos autores analisados neste livro enfatizaram, o conhecimento dos determinantes da nossa acção é o primeiro passo para a liberdade de decisão.»