Albino Forjaz de Sampaio (1884–1949) foi uma das figuras mais singulares e provocadoras da vida literária portuguesa da primeira metade do século XX.
Escritor de múltiplos talentos e homem de verbo afiado, destacou-se como polemista incansável, capaz de suscitar acesas discussões nos jornais e salões da época. Dotado de uma inteligência arguta e de uma ironia cortante, usou a sua pena como arma, atacando convenções, hipocrisias e moralismos com mordacidade. Foi também publicista prolífico, colaborando em inúmeras publicações periódicas, fundando revistas e dirigindo colecções editoriais que ajudaram a moldar o gosto literário do seu tempo.
Figura boémia e hedonista, Forjaz de Sampaio cultivava com entusiasmo os prazeres da mesa, sendo um gourmand refinado, conhecedor exigente da gastronomia nacional e europeia, à qual dedicou crónicas memoráveis. Como bibliófilo, reuniu uma biblioteca notável, animado por uma devoção quase sensual pelos livros, tanto pela sua forma como pelo seu conteúdo. Mas foi sobretudo como cronista que deixou marca duradoura, fixando com graça, ironia e argúcia os ambientes lisboetas, as figuras do quotidiano e os pequenos grandes gestos da vida urbana. A sua escrita, simultaneamente elegante e cáustica, faz dele um dos maiores cronistas do seu tempo, herdeiro de Ramalho Ortigão e antecessor de João Bénard da Costa.
O seu livro mais famoso, Palavras Cínicas, publicado em 1915, tornou-se um verdadeiro fenómeno editorial e cultural, tendo sido — segundo alguns estudos — o segundo livro de autor português mais vendido em Portugal em todo o século XX, apenas superado por Os Maias. A obra reúne reflexões, máximas e aforismos sobre o amor, a sociedade, a vaidade e a morte, com um tom desencantado mas nunca vulgar, que lhe granjeou tanto admiração como escândalo. Palavras Cínicas permanece, ainda hoje, um testemunho ímpar da mordacidade e da lucidez de um autor que se recusou a ser domesticado pelas conveniências do seu tempo e que, pela verve e pelo estilo, continua a surpreender leitores contemporâneos.