• por E-primatur
    Nov 28
  • por E-primatur
    Nov 27

    Publicar Hitler

    tergiversações


    Chegará muito em breve às livrarias uma nova edição de Mein Kampf/A Minha Luta, de Adolf Hitler. Desde 1945 que qualquer edição da obra está proibida. O estado da Baviera, que ficou titular dos direitos de autor, sempre se opôs a qualquer reedição do texto, argumento que seria compreensível à época, considerando o conteúdo da obra e, acima de tudo, a concretização abominável de muito do que o autor nela expusera, já em 1923.

    No entanto, com o passar dos anos esse argumento foi deixando de fazer sentido, pois apenas contribuiu para que o texto circulasse clandestinamente, em versões quiçá truncadas, e adquirisse uma aura imerecida junto das franjas extremistas de direita. Estamos em crer que esta clandestinidade não contribui para o esclarecimento do público, pelo contrário.

    A edição agora publicada retoma a versão editada pela Afrodite em 1976, agora devidamente revista e cotejada com o original, e visa colmatar essa lacuna e trazer o texto para o único plano em que, no nosso entender, ele deve ser hoje lido, como documento histórico, e não ideológico. Se a filosofia editorial da E-primatur passa por publicar obras marcantes, Mein Kampf insere-se certamente nesta categoria.

    Dentro do programa editorial da E-primatur, e por oposição, poderá o leitor encontrar Os Mutilados de Hermann Ungar, o romance que encabeçava a lista de livros a destruir pelos nazis ou Bambi, de Felix Salten, um dos ódios de estimação literários de Hitler.

    O prefácio de António Costa Pinto, autor e académico que estudou e bem conhece os meandros da ideologia fascista, visa ajudar o leitor contextualizando a obra.
     
    Os Editores



  • por Hugo Xavier
    Nov 23

    Arrumar Vilhena

    tergiversações

    No seu famoso «O nome da Rosa», Umberto Eco abordava a questão da comédia enquanto género mais do que maldito, amaldiçoado. A parte da «Poética» de Aristóteles que versava o género perdeu-se e com ela o lugar da comédia entre as artes literárias.

    Ainda hoje a comédia figura entre os géneros menores, do cinema ao teatro. Também o humor na literatura tem dificuldade em arrumar-se entre as estantes da literatura sobretudo no que toca à literatura portuguesa de onde, na realidade, desapareceu no começo do século XX com o desaparecimento de escritores como Eduardo Brun, Gervásio Lobato, António Ferreira, Albino Forjaz de Sampaio, Eduardo Schwalbach, algumas coisas de Augusto Costa e alguns outros. Eça talvez tenha sido o último «grande» e Camilo tinha um humor demasiado subtil e que era perceptível para os muito poucos capazes de perceber como ele brincava (e como brincava!) com os géneros e estereótipos literários da sua época.

    Ainda assim, quase todos esses autores eram escritores "sérios" que, por vezes, tocavam o humor. A comédia na literatura é coisa menor e - espante-se - fácil. Pelo menos para a crítica e a academia. Isso compreende-se, é claro, desdenha quem não consegue comprar. E ninguém espera um crítico ou um académico de bom humor. Seria algo tão baixo e fácil como um comediante.

    Os grandes grupos livreiros pedem-nos para categorizarmos Vilhena para que saibam em que estante o arrumar. Como é possível fazê-lo? Humor? Vilhena está para lá do humor. Ficção? (mas é tão real...) Banda desenhada/cartoon? (a FNAC arrumou-o na Banda desenhada) Crítica social? (ora aí está uma categoria em falta.) Livro ilustrado? (certamente mas fica um livrinho de bolso esmagado entre álbuns de grande mérito artístico e, sobriamente "sérios".)

    Vilhena foi tudo isto e muito mais. A categoria menos «limitativa» seria "Literatura Portuguesa" mas é difícil que o aceitem lá. Afinal aquilo é humor e desenhos de mulheres voluptuosas...

    Se Gil Vicente vivesse hoje seria arrumadinho na pequena estante do Teatro e de lá não sairia. Esta é a maldição da comédia: arrancada, na noite dos tempos, da segunda parte da «Poética» de Aristóteles e, como tal, do cânone da literatura ocidental.

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