No último boletim da E-Primatur em 2021, incluímos um pequeno texto sobre o aumento dos preços das matérias-primas usadas na produção de um livro. Passados três meses, a situação é muito pior, fruto da conjugação de vários factores. Por um lado, a normalidade das cadeias de abastecimento ainda não foi retomada, uma das principais sequelas da pandemia. Por outro, a perturbação causada pela guerra veio agravar ainda mais essa situação, já de si frágil. Por último, greves nalgumas papeleiras da Escandinávia – um dos principais fornecedores desta matéria-prima ao resto da Europa – traduziram-se em maior escassez de papel.
Desta forma, se no último trimestre de 2021 já vínhamos assistindo a um aumento do custo do papel (na ordem dos 20%) e do cartão (50%, nalguns fornecedores), usado nos livros ditos de capa dura, esses aumentos continuaram no começo de 2022. A isto somam-se os aumentos com maior visibilidade pública (mas de modo algum os únicos), os dos combustíveis e da energia (que se repercutem nos custos de transporte e envio, com os CTT a aumentarem o custo do registo em 0,25 €), que neste trimestre dispararam.
Ora, o livro, ao contrário de outros produtos, não consegue fazer repercutir no preço final todos estes aumentos: há um limite para o preço, limite esse mais ou menos simbólico e que está directamente relacionado com a percepção de valor que o consumidor lhe atribui. Não podendo encarecer muito mais os livros, isso significa que é a margem operacional da editora que tem de absorver esse aumento de custos. E isto só é viável até certo ponto.
Para se ter uma noção mais precisa do que estamos a falar, vejamos um caso concreto: Energia e Civilização. O livro foi impresso em Novembro custando sensivelmente 12.000,00 € a produzir1). Se fosse hoje, custaria mais 55%, sendo o preço do cartão o maior responsável pelo grosso deste aumento.
Mas para melhor clarificação, vejamos como se decompõe a estrutura de custos deste mesmo livro.
Para os custos apresentados, temos um custo unitário de 5,99€.
Em direitos de autor (8%), 1,88€ por exemplar.
O desconto comercial que a Editora dá aos livreiros anda na ordem dos 40% (média ponderada, que inclui as vendas directas – no site e Feira do Livro), o que dá um preço de venda ao livreiro de 14,56 € (preço sem IVA 23,49 € -40%).
A conta é simples: 14,56€ - 5,99€ - 1,88€ = 6,69€; é este o valor que a Editora apura sobre cada exemplar vendido, a margem bruta para este título (desta margem há ainda a ter em conta os custos de estrutura, ordenados, rendas, electricidade, contabilidade, etc. e o dinheiro para fazer o livro seguinte).
Ora, nesta equação, foram os custos de impressão – incluídos no custo unitário – que se agravaram substancialmente, reduzindo bastante a margem bruta das editoras (pois nem os preços nem as tiragens aumentaram). A principal consequência, no imediato, é a Editora ter de deixar de fazer livros de capa dura, até a situação se normalizar em termos de custos.
Foi uma decisão difícil, mas ponderada e necessária para podermos manter a actividade sem ter de aumentar exageradamente o preço de venda dos livros.
1 A obra teve uma tiragem de 2000 exemplares; para um investimento de 11.718,65 euros, a tradução representa 41,5% deste valor, a impressão 47,5% e os restantes 8% dividem-se entre paginação, revisão, design de capa, índice remissivo, custos promocionais, etc.