Em 2010, quando fui director editorial da Ulisseia no grupo Babel, propus e pus em andamento a tradução de uma obra que ninguém conhecia. Tratava-se de um livro esquecido de um esquecido autor russo no exílio que, na altura, começava a ser redescoberta em vários países europeus. Ainda não tinha aparecido a edição da New York Review of Books Classics. Pouca ou nenhuma informação se encontrava na internet sobre Victor Serge e o seu «Caso do Camarada Tulaev» que, hoje em dia, são um autor e romance de culto da literatura europeia.
Contactei na altura o tradutor Valdimir Afonin que, como a maior parte das pessoas, não conhecia Victor Serge. Eu pedi-lhe que ele tentasse localizar o original e perceber quantas páginas teria e a dificuldade da tradução.
Tentar encontrar informação sobre Serge era, como indiquei, complicado na altura. Havia alguma informação geralmente contraditória na internet e algumas edições de micro editoras europeias cujos tamanhos da obra diferiam substancialmente.
O Valdimir Afonin finalmente percebeu aquilo que hoje sabemos e descobrimos com facilidade: Serge escrevera o seu livro no exílio e em língua francesa. O Valdimir propos então uma redução do valor da tradução - tinha-lhe feito uma proposta para uma tradução do russo que se paga mais cara do que uma tradução do francês - e ele e a sua molher - Ana Osório - que tinha formação em língua francesa fariam a tradução.
E assim, no começo de 2011, coincidindo com a edição americana da NYRBClassics cuja introdução e apresentação coube a Susan Sontage, estava pronta a tradução portuguesa. Infelizmente na Babel não houve luz verde para a publicação do livro. Pior do que isso, já na fase final da revisão da tradução, Valdimir Afonin faleceu. No final de 2011 saí da editora.
Já em 2015, quando comecei a trabalhar no projecto da E-primatur, contactamos a Babel para saber se nos vendiam a tradução mas tal não foi, infelizmente, possível. Queria publicar o livro mas sentia também uma dívida de amizade para com o Vladimir e a Ana Osório.
Face à situação, contactei o Francisco Silva Pereira que fez um excelente trabalho cujo resultado pode agora ser encontrado nas livrarias mas não queria deixar de prestar a minha homenagem ao Vladimir e agradecer à Ana Osório. Gostaria de ter trabalhado mais com eles.