Dois textos complementares, dois exercícios sobre o terror na vida real.
Giacomo Debenedetti deixou uma obra curta na ficção, mas, ainda assim, uma obra que lhe granjeou um lugar de destaque na literatura do século XX.
Estes dois textos, escritos respectivamente em 1944 e 1945, mostram bem a razão do reconhecidomento que muitos dos seus pares na literatura lhe devotavam. Nomes como Alberto Moravia, Natalia Ginzburg ou Guido Piovene são apenas alguns desses escritores.
16 de Outubro de 1943
Ensaio narrativo em que Debenedetti reconstrói, hora a hora, a rusga nazi contra a comunidade judaica de Roma. A partir de testemunhos, telefonemas interrompidos, portas arrombadas e pequenos gestos de sobrevivência, o autor mostra como o terror se infiltra no quotidiano: vizinhos que ajudam, outros que denunciam, famílias que se dispersam em esconderijos improvisados. A narração acompanha os preparativos, a detenção em massa e a deportação que se segue, registando tanto a frieza burocrática dos algozes como a perplexidade e a coragem dos perseguidos. Sem retórica, a prosa transforma factos documentais em drama humano, iluminando o mecanismo da perseguição e a indiferença que a permitiu. O resultado é um retrato pungente de um único dia que concentra a violência de uma época.
Oito Judeus (Otto ebrei)
Conjunto de retratos ficcionais em que Debenedetti segue oito pessoas judaicas perante as leis raciais e a caça ao homem. Cada figura — um estudante, um comerciante, uma mãe, um intelectual, entre outros — enfrenta a mesma ameaça com estratégias e fragilidades distintas: disfarces, fugas, negociações, súbitos sobressaltos de esperança. O autor fixa as minúcias do medo e da dignidade: a mala feita à pressa, a campainha que toca de madrugada, a escolha entre ficar e desaparecer. Sem moralismos, a escrita alterna entre observação clínica e compaixão, revelando como a violência colectiva se abate sobre vidas comuns. Ao justapor estes destinos, o livro compõe uma só história: a da vulnerabilidade e da resistência individuais diante da máquina persecutória.
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Assim, se o primeiro texto é um ensaio quase jornalístico, baseado totalmente em factos e dados concretos, Debenedetti humaniza o texto; já no segundo texto, apesar de estarmos perante uma ficção, o Autor faz o exercício contrário, criando um texto que, tal como o tratamento discriminatório, desumaniza as pessoas em causa, tornando-as «coisas» alvo do ódio, tudo menos seres humanos.
«Breve e sublime, [...] narra a deportação dos judeus romanos como nenhum outro texto. Não podemos deixar de admirar a extraordinária força do estilo, transparente como vidro.» — Natalia Ginzburg, La Stampa
«Reconhecido de imediato como uma pequena obra-prima. Um livro único, imensamente fértil, sobre o Holocausto em Itália.» — Publishers Weekly
«A primeira memória escrita da Shoah italiana.» — Modern Italy
«Uma ‘chave’ para compreender a memória italiana do pós-guerra.» — Centro Primo Levi
«Considerado já um clássico pela sua dupla força literária e testemunhal.» — QLibri