Mao, Robespierre, Trotsky, os grandes textos sobre «revolução» comentados por Slavoj Žižek
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«Se a mola do governo popular na paz é a virtude, a mola do governo popular em revolução é ao mesmo tempo a virtude e o terror.»
Uma obra que reúne excertos de alguns dos discursos mais marcantes de Robespierre, figura controversa mas fundamental na evolução dos acontecimentos que se sucederam após a Revolução Francesa. Apologista de um rigor inaudito, a vontade de afirmar uma cesura radical com o passado está bem patente em Robespierre; essa cesura viria a culminar no Terror revolucionário. Nas suas palavras: «Se a mola do governo popular na paz é a virtude, a mola do governo popular em revolução é ao mesmo tempo a virtude e o terror: a virtude, sem a qual o terror é funesto; o terror, sem o qual a virtude é impotente. O terror não é outra coisa senão a justiça pronta, severa, inflexível; é, portanto, uma emanação da virtude: é menos um princípio particular que uma consequência do princípio da democracia aplicado às mais prementes necessidades da Pátria.»
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Escrito em 1920, no auge da guerra civil russa que surgiu após a Revolução de 1917, Terrorismo e Comunismo é ainda hoje uma das defesas mais poderosas e vibrantes do uso da força contra quem se opõe a uma ditadura revolucionária, a do proletariado.
A obra surgiu como réplica a um texto de Karl Kautsky (um dos marxistas mais célebres da altura), A Ditadura do Proletariado, no qual o autor acusava os revolucionários russos de fomentarem a guerra civil e de se terem afastado da democracia parlamentar, preferindo, ao invés, recorrer à força e a métodos extra-parlamentares para imporem a sua ditadura do proletariado.
Na sua introdução a esta edição, Slavoj Zizek, não se esquivando à polémica, afirma que o ataque que Trotsky desfere às ilusões da democracia liberal, na sua réplica a Karl Kautsky, ainda hoje tem relevância.
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Estes textos revolucionários de Mao de Tsé-tung, que os escreveu numa fase inicial do seu pensamento político-filosófico, formaram boa parte da base teórica da revolução chinesa, sendo que os seus apelos veementes à insurreição fazem com que integrem justamente o cânone de textos revolucionários.
Na sua Introdução, Slavoj Zizek, que recorre, como habitualmente, a um leque amplo de referências culturais e políticas, apresenta-nos algumas conclusões inesperadas, e, porque não dizê-lo, provocatórias, quanto ao lugar de Mao de Tsé-tung no conjunto de grandes figuras revolucionárias.