Michel de Montaigne (1533-1592) é um dos mais importantes filósofos do Renascimento e um dos escritores mais influentes da literatura ocidental.
Michel de Montaigne nasceu numa família burguesa que em menos de duas gerações ascendera à nobreza. Pensa-se que a família de seu pai tivesse uma origem marrana (nome dado aos judeus espanhóis ou portugueses).
A educação do jovem Michel baseou-se num plano traçado pelo pai depois de consultar vários amigos humanistas. Das muitas excentricidades desse processo educativo note-se, por exemplo, que os primeiros três anos da sua vida foram vividos numa cabana isolada no seio de uma família camponesa, pois o pai entendia que era vital que o filho absorvesse desde a mais tenra idade as dificuldades e a forma de vida dos camponeses que a sua família tinha por obrigação proteger. Um segundo objectivo era tornar o latim a língua primária do jovem, pelo que a partir dos 4 anos, e de regresso à casa paterna, teve um tutor alemão que não falava francês, apenas latim; e todos os criados que contactavam com o jovem tinham de saber latim. Dessa forma, toda a família falava em latim. Através de um método de aprendizagem inovador que, além dos livros envolvia jogos, conversação, meditação e actividades diversas, aprendeu grego clássico. Esta base educativa baseada em regras que privilegiavam o desenvolvimento da curiosidade e da absorção de conhecimentos pelo jovem fez com que, já adulto, admitisse que a sua educação o tivesse feito apreciar a noção de dever e do dever cumprido sem que tal acarretasse uma carga negativa ou algum tipo de peso. A partir dos 7 anos estudou num prestigiado colégio em Bordéus e formou-se em Leis, embora não se saiba ao certo qual a sua alma mater.
A sua ascensão foi meteórica: de consultor jurídico a conselheiro do parlamento a membro da Corte de Carlos IX, acabando por atingir a mais prestigiada distinção conferida a um nobre francês: a Ordem de São Miguel.
Ainda em Bordéus, tinha-se tornado amigo do poeta Étienne de La Boétie e aquando da morte deste, em 1563, sugerem alguns especialistas, terá nascido a vontade de Montaigne comunicar num livro que substituísse o amigo morto e aí, talvez, a génese dos seus Ensaios.
Após a morte do pai, tendo herdado o título familiar, dedicou-se a traduções e à edição das obras do falecido amigo La Boétie.
Em 1571, retira-se da vida pública, cortando contactos sociais e familiares para viver em quase total isolamento na torre do seu castelo, numa sala revestida com mais de 1500 livros. Nessa altura, inicia a escrita da sua obra-prima.
Mesmo a partir do seu isolamento, e através de cartas escritas aos vários envolvidos, tentou uma influência pacificadora durante as ditas Guerras Religiosas que assolaram o final do século xvi. Ao fim de 10 anos de isolamento, e tendo começado a sofrer de crises de pedra nos rins, decidiu, ainda assim, viajar pela Europa, publicado que estava o primeiro volume dos seus ensaios. Para além do fim em si da viagem, Montaigne procurava uma cura para o seu problema, tendo passado por diversas termas. Concluiu também o projecto de uma peregrinação a Itália.
Durante a sua ausência foi eleito Maire de Bordéus como, antes dele, o pai o havia sido. Regressou a França para ocupar o cargo e esteve activamente envolvido na política local e nacional de um período muito conturbado, ao mesmo tempo que continuava a escrever, editar e publicar os outros volumes dos seus ensaios (o último dos quais publicado postumamente). Morreu em 1592, supostamente de um cancro na garganta, morte ingrata para alguém que considerava a arte da conversação como a mais importante.
Os seus Ensaios, rapidamente se tornaram um dos livros mais traduzidos da sua época e tiveram clara e admitida influência em autores tão diversos como Francis Bacon, René Descartes, Blaise Pascal, Montesquieu, Edmund Burke, Joseph De Maistre, Voltaire, Jean-Jacques Rousseau, David Hume, Edward Gibbon, Virginia Woolf, Albert Hirschman, William Hazlitt, Ralph Waldo Emerson, Jean Meslier, John Henry Newman, Karl Marx, Sigmund Freud, Alexander Pushkin, Charles Darwin, Friedrich Nietzsche, Stefan Zweig, Eric Hoffer, Isaac Asimov, Fulton Sheen, Albert Camus, e na segunda fase das obras de William Shakespeare, para apenas referir alguns.