Harry Stephen Keeler é um dos grandes autores de culto da literatura americana do século XX.
Keeler nasceu a 3 de Novembro de 1890 e morreu a 22 de Janeiro de 1967. Romancista norte-americano conhecido por criar enredos extremamente complexos com tramas labirínticas que combinam mistério, absurdo e ficção pulp, tem uma escrita frequentemente considerada excêntrica, ou até mesmo caótica, geradora de um estilo único que lhe garantiu leitores fiéis, sobretudo entre os apreciadores de narrativas pouco convencionais.
A sua infância foi marcada por dificuldades familiares. Após a morte precoce do pai, Keeler foi criado pela mãe, que geria uma pequena pensão. A vida nesse ambiente inspirou-o a escrever histórias de personagens que se cruzam de forma inesperada. Entretanto, a mãe, preocupada com o seu comportamento excêntrico, internou-o por pouco tempo num asilo para doentes mentais quando ele tinha cerca de 20 anos. Este episódio ocasional tornou-se posteriormente um padrão na sua vida, que sempre misturou um comportamento estranho com uma enorme dificuldade de adaptação social. Deste facto crucial decorreu também o interesse do Autor pelas questões da normalidade e da loucura, da liberdade e da sua ausência.
Keeler estudou engenharia eléctrica no Instituto Armour (actualmente Illinois Institute of Technology), mas a sua verdadeira paixão era a literatura. Trabalhou como editor e colaborador na revista 10 Story Book, onde publicou os primeiros contos e consolidou a sua escrita.
Casou-se pela primeira vez em 1928 com Hazel Goodwin, que teve um papel importante na sua vida pessoal e profissional. Após a morte de Hazel, em 1955, Keeler entrou numa grande depressão, o que agravou ainda mais a sua saúde mental. Em 1956, casou-se pela segunda vez com Thelma Rinaldo, uma ex-secretária com quem passou os últimos anos da sua vida. No entanto, a sua saúde continuou a deteriorar-se e, apesar de uma breve recuperação, foi internado novamente numa instituição psiquiátrica. Morreu a 22 de Janeiro de 1967.
O estilo literário de Keeler caracteriza-se pelo uso de múltiplos fios narrativos que se cruzam de forma inesperada com coincidências inverosímeis, num conjunto de estruturas narrativas pouco usuais. Muitas das suas histórias envolvem manuscritos encontrados, identidades trocadas e personagens envolvidas em enredos improváveis de conspiração. Ao longo da sua carreira, publicou dezenas de romances, estando Sing Sing Nights (1927) e The Riddle of the Traveling Skull (1934) entre os mais conhecidos. A abordagem inovadora e pouco ortodoxa do género policial fê-lo cair em desgraça junto da crítica e da indústria editorial tradicional do seu tempo nos Estados Unidos. Contudo, os seus livros continuavam a vender-se e a ser reimpressos no estrangeiro – Portugal e Espanha foram, a propósito, dois dos países em que o Autor teve grande êxito, a ponto de ter escrito obras para publicação exclusiva em cada um deles.
Apesar do ostracismo ao qual esteve votado durante grande parte da sua vida, a obra de Keeler foi posteriormente redescoberta e valorizada por um público alternativo que apreciava a sua originalidade. Na segunda metade do século xx, a sua obra passou a ser reconhecida como uma abordagem radicalmente inovadora ao mistério e ao policial, influenciando escritores e até cineastas que viram no seu trabalho uma ruptura com as convenções narrativas. Hoje, é considerado um dos autores mais singulares do século xx, um verdadeiro exemplo de como a experimentação literária pode desafiar as expectativas e criar um estilo inconfundível.